terça-feira, 24 de novembro de 2009
Seleção: o momento crítico da “administração de RH” – o papel da “sorte”
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Motivação: é possível motivar pessoas ou apenas estimulá-las?
Esta é mais uma ideia pretensiosa da “administração de RH”: a de que é possível motivar pessoas a fazerem o que deve ser feito. As pessoas já trazem a sua motivação consigo. É possível – e necessário – apenas reconhecer o que as motiva. Ainda, é possível reconhecer a intensidade da motivação e quais suas fontes principais.
Mais que isso, só uma coisa é possível – justamente o que as pessoas confundem com “motivação”: canalizar a motivação já existente para os objetivos da empresa. De que forma seria possível “canalizar” a motivação de alguém? Ai é que entram os estímulos. Assim, se estimula para canalizar a motivação, não para motivar.
Quando o estímulo é algum tipo de recompensa financeira, é ainda mais comum confundir estímulo com motivação – diz-se que o funcionário age motivado pela possibilidade de recompensa, enquanto ele age apenas estimulado por essa possibilidade. Os economistas dizem o mesmo de forma parecida: as pessoas reagem a “incentivos financeiros”.
Qual seria a importância de discutirmos essa aparente pequena diferença (entre motivar ou estimular)? Simplesmente por que o resultado pode ser completamente diferente, se não diferenciarmos bem uma coisa da outra. Pode-se gastar muito em “incentivos financeiros”, tentando motivar pessoas desmotivadas; assim como pode-se desperdiçar uma grande dose de motivação já disponível, por não sabermos canalizá-la adequadamente.
Ou seja, por que é necessário ir um pouco mais fundo na avaliação, antes de decidir “onde alocar um recurso humano” – ou seja, antes de destinar cada pessoa para cada tarefa. “Avaliar o perfil” de alguém, por mais detalhadamente que seja, ainda é muito pouco; por que “perfis” se referem a populações, não a indivíduos especificamente – e quem vai desempenhar a tarefa é um individuo, especificamente.
Assim, é necessário mais que conhecer o perfil de uma pessoa, é necessário conhecer a pessoa. Conhecer o perfil é suficiente apenas para concluir que a pessoa tem os atributos necessários para o bom desempenho na tarefa. Mas para tentar motivar, para estimular, para canalizar a motivação, é necessário conhecer mais que o perfil.
Conhecer a pessoa, além do perfil do funcionário, obviamente não significa saber detalhes de sua vida pessoal. Nem mesmo gastar algum tempo para definir “como você a vê”. Ao invés (ou além) disso avaliar “como a pessoa vê a si própria”. Apenas após esse passo, pode-se passar para os passos seguintes, comentados abaixo.
- Avaliar como ela vê a empresa;
- pelo menos estimar o que ela realmente deseja para si – quais são os seus projetos pessoais (o trabalho apenas serve para viabilizá-los de alguma forma, direta ou indiretamente);
- avaliar se seus objetivos pessoais estão em conflito ou em ressonância com os da empresa;
- e, finalmente, avaliar como a empresa pode servir aos objetivos pessoais do colaborador.
É, você leu correto: “avaliar como a empresa pode servir aos objetivos pessoais do colaborador” – foi o que escrevi. Quer dizer que a empresa serviria “aos objetivos pessoais dos colaboradores”? E o administrador ainda teria que ocupar seu tempo em descobrir “como a empresa pode servir para eles”?
“Conhecer tão a fundo” cada colaborador, apenas para descobrir “como a empresa pode servir aos seus objetivos pessoais”, poderia ser apenas mais uma bobagem. Acontece, porém, que as a forma mais óbvia e pragmática – a de “Incentivos financeiros” (ou seja, uma grana a mais, sempre seja bem-vinda para os funcionários), funciona dentro de limites estreitos, muitas vezes (a maioria, até?), sem o retorno desejado pela empresa. A alternativa que resta é: tratar de forma geral (por perfis) quem tem potencial médio e individualizar a abordagem daqueles que tem potencial maior.
A abordagem geral das motivações na empresa poderia ser descrita, em linhas gerais, em três segmentos:
Colaboradores que atuam nas linhas de frente têm na necessidade de sobreviver a sua maior motivação – a importância do emprego se origina daí. Mas, mesmo nas linhas de frente, nunca é apenas isso. Pois à necessidade de meramente sobreviver, se segue o desejo de “mais que sobreviver”: a princípio, “sobreviver com segurança”; a seguir, “sobreviver com conforto”.
Colaboradores que atuam em linhas de gerência, geralmente consideram que sua sobrevivência está relativamente assegurada; sentem-se menos dependentes da empresa e a importância relativa do emprego se torna menor – uma vez que acreditam que não será tão difícil sobreviver fora daquela empresa (seja em outro emprego, seja de forma autônoma). Assim, tem na necessidade de segurança e – cada vez mais – no desejo de conforto, suas maiores motivações. A sensação de estar “fazendo parte” ou até “contribuindo” para “algo maior” que o trabalho individual já se torna mais presente. Assim como as sensações de “controle” e de “poder” – o prazer advindo destas sensações é mais uma fonte de motivação. E, como todos os colaboradores são seres humanos, assim como a necessidade de sobreviver com segurança é seguida do desejo de sobreviver com conforto, este é seguido do desejo de sobreviver com “excessos”.
Colaboradores que atuam em linhas que requerem mais liderança que gerência estão presente em empresas maiores, com organogramas de vários segmentos. Estes já sobrevivem com segurança e conforto (alguns também com excessos). O que podem desejar, então, que venha a servir de motivação? Mais ainda, de motivação que possa ser canalizada pela empresa para os seus objetivos?
Há ainda um outro tipo de motivação, completamente diferente de qualquer outro. Um tipo que não tem origem nas circunstancias atuais de cada indivíduo e sim em sua história pessoal. A história pessoal de cada ser humano apresenta uma trajetória, a qual depende de três fatores: suas capacidades (o que suas características pessoais possibilitam obter); os objetivos (o que, subjetivamente, desejam obter); e suas possibilidades (o que suas circunstâncias lhe possibilitam obter). Comparando a trajetória de sua história pessoal com seus objetivos, os seres percebem se atingiram ou não o que desejam. Em seguida, reagem a essa percepção, e “frustram-se” ou “realizam-se” (esse processo será descrito em outros posts e textos).
A empresa pode ter um papel fundamental em relação a esse processo, em três momentos: 1 – ao fornecer parte das possibilidades (circunstâncias); 2 – quando o líder reconhecer as capacidades e tenta aproveitá-las em benefício mútuo (do colaborador e da empresa); 3 – ao fazer parte das realizações ou das frustrações (bem como da racionalização ou sublimação.
A motivação de um tipo especial, a que nos referimos acima, decorre da necessidade de os colaboradores, seres humanos que são, lidarem com suas realizações ou frustrações. E eles podem fazê-lo de duas formas: racionalizando ou sublimando.
Ao líder cabe avaliar os colaboradores quanto a esse processo e responder 2 perguntas: 1 – o ser humano colaborador está utilizando a empresa para sua frustração, para realização – e consequente racionalização ou sublimação; 2 – caso afirmativo, como aproveitar esse fato, canalizando a motivação resultante aos objetivos da empresa.
E quanto ao colaborador-mor da empresa, o empresário, seja ele o proprietário ou “apenas”o controlador? O que pode motivar o colaborador que está no segmento colocado mais acima nos organogramas? O que o motivou a construir é o mesmo que hoje o motiva a manter e a expandir o mais possível, a sua empresa? Se ele criou a empresa a partir do zero, deve ter passado pela fase de motivação relacionada a necessidade de sobreviver, seguida da necessidade de segurança e da possibilidade de sobreviver com excessos. Certamente já experimentou a sensação de controle de algum grau de poder. Daí pra diante, o que ainda por vir? Quais seriam as motivações ainda possíveis a quem já andou a estrada desde o seu inicio e foi mais longe do que qualquer outro, dentro da mesma empresa?
Proporei respostas a essas perguntas em outros posts. Por ora, utilizamos as perguntas apenas para deixar claro o que afirmamos no inicio: motivação, cada pessoa traz a sua; ao empresário, cabe apenas reconhecer e estimular adequadamente os colaboradores, canalizando as motivações já existentes aos objetivos da empresa, através de estímulos.
Espero que você esteja se perguntando agora: e quais seriam os possíveis estímulos? de que forma canalizar as motivações? Estas e outras perguntas relacionadas também serão abordadas em outros posts. Se você estiver se fazendo estas e outras perguntas, me permito concluir que as apresentações estão valendo a pena.
Marcus Sabry