Auto-didatismo
em
4 passos
O
método Educare
Auto-didatismo em
quatro passos
O
método Educare
Introdução
O método – 4
passos
Passo 1 –
revisão
Passo 2 –
pesquisa
Passo 3 –
debate
Passo 4 –
síntese
Aprendizado
baseado em tutoria
Outros itens
essenciais para o aprendizado:
organização
disciplina
auto-estima
motivação
atividade
física
Uma palavra
sobre liderança
Uma palavra
sobre déficit de atenção
Conclusão:
percebendo-se capaz
Introdução –
o método
O
que nós chamamos de “Método Educare” é algo tão simples que
pode-se pensar que apenas observamos a forma natural das pessoas
estudarem e a associamos ao conhecimento sobre como o cérebro
armazena informações. Se pensarem isso, ótimo, porque é
exatamente isso.
Em
primeiro lugar, as pessoas realmente já executam uma sequência
naturalmente lógica de ações quando querem aprender algo. Esta
sequência é tão espontânea que normalmente não se percebe –
ocorre inconscientemente – e, por isso, nem parece que existe:
parece que as pessoas apenas tentam aprender, cada uma a seu jeito.
No entanto, existe muito em comum entre os vários “jeitos” das
pessoas aprenderem.
Foi
exatamente observando o que há em comum, que pudemos elaborar o
Método Educare: ao identificamos esta sequência e propormos sua
sistematização.
Em
segundo lugar, o cérebro realiza processos específicos ao lidar com
novas informações, podendo “descartá-las” ou “armazená-las”.
Há uma sequencia natural para que isso ocorra – desde a captação
da informação pelos órgãos dos sentidos, a sua significação, a
sua relação a outras informações, o seu trânsito dentro de áreas
específicas no cérebro, até a elaboração de uma informação
pronta para ser armazenada e, a posteriori, recuperada e utilizada de
várias formas.
Conhecendo
esses 2 fenômenos (comportamental e cerebral), pudemos elaborar uma
sequência de ações (um método) para facilitar o aprendizado.
Consideramos,
simplificadamente, que “aprender” significa “memorizar”.
Assim, facilitar o aprendizado requer conhecer os vários tipos de
memória e compreender o processo de formação de memória de longo
prazo.
Ou
seja: poderemos facilitar o processo de aprendizagem se apresentarmos
informações em uma sequência coincidente com os processos
cerebrais de formação de memória de longo prazo.
Esta
é a primeira parte da essência do Método Educare. A segunda parte
é fazer isso realçando que o aluno é capaz de aprender, buscando
resgatar sua auto-estima e canalizar suas motivações para o estudo.
O
efeito final que buscamos é tornar o aluno auto-confiante o bastante
para agir de forma auto-didata: o auto-didatismo não é exatamente
um método e sim um estado ou uma atitude em que nem mesmo todas as
dificuldades somadas conseguem abalar a auto-confiança do aluno.
Mesmo
as maiores dificuldades são enfrentadas com confiança em si mesmo,
sem diminuir a auto-estima ou a motivação. Mesmo alunos com
“déficit de atenção” conseguem excelentes resultados com o
Método Educare, porque ele funciona igualmente em alunos com ou sem
TDAH.
Um
aluno motivado, com acesso a fontes de pesquisa e com a
sistematização do aprendizado através do Método Educare, com ou
sem a orientação de um tutor, consegue aprender por si só –
consegue se tornar auto-didata.
Os quatro passos
do método são:
Revisão;
Pesquisa;
Debate;
Síntese.
Cada
um tem características e detalhes que os tornam realmente um
método, algo que tem um efeito final claramente detectável, onde
1 + 1 + 1 + 1 é bem maior do que 4. Um efeito que vai muito além
da simples assimilação de informações; um efeito que passa por
auto-avaliações, percepção de capacidades e reavaliação da
auto-estima e do auto- conceito.
Resumidamente,
dizemos que a essência do Método Educare é “perceber-se capaz”,
pois um aluno que se percebe fazendo uma revisão e uma pesquisa,
participando de um debate e elaborando uma síntese, acima de tudo,
se vê como alguem capaz. Alguém que, apesar de algumas
dificuldades, é capaz de superá-las e, através da ferramenta do
método, alcançar seus objetivos.
Outros
pontos essenciais para que ocorra a aprendizagem: 1. organização;
2. disciplina; 3. auto-estima; 4. motivação; 5. atividade física.
Realçar estes pontos também compõem a essência do método.
A
simples existência de um método já implica em certa Organização
e Disciplina. Os efeitos secundários citados acima (resumidamente:
perceber-se capaz) tem um efeito direto positivo sobre a auto-estima
e a motivação.
Um
aspecto em particular a ser abordado é a Motivação. De nada
adiantam informações, métodos, ferramentas, estímulos, apelos ou
o que quer que seja se o aluno não encontra motivação para
estudar. Motivação é um tema complexo tem determinantes que estão
muito além da sala de aula mas precisamos abordar este tema, mesmo
que brevemente.
“Perceber-se
capaz”, é o efeito mais imediato do Método Educare. Acreditamos
que esse efeito tenha repercussões diretas sobre a motivação. Pois
um dos principais (se não o principal) entrave ao progresso da
aprendizagem é um ciclo vicioso, composto por:
baixo
rendimento;
aumento no
esforço de estudo;
excesso de
cobrança – externa e interna;
baixa
auto-estima.
profecia
auto-realizada.
O
resultado é uma desmotivação progressiva; quando esta se
estabelece, entra-se em uma espiral descendente, em que o ciclo não
apenas se mantém mas se acentua dia a dia – e o resultado final é
que se poderia chamar de “profecia auto-realizada”.
Quando
o aluno não acredita mais na possibilidade de sucesso, passa a
esperar de si apenas maus resultados; nesse ponto ele praticamente
desiste de tentar, configurando a chamada profecia auto-realizada:
pois ao prever (profetizar) apenas maus resultados, desiste de
tentar, e acaba obtendo maus resultados que mostram que “a profecia
se cumpriu”. Ora, prever maus resultados e desistir de tentar foi o
que resultou nos maus resultados – por isso, dizemos que a
“profecia realiza a si mesma”.
Nesse
ponto, geralmente, as cobranças internas e externas se acentuam,
acelerando a espiral, tornando o excesso de cobrança cada vez mais
contra-producente e com efeitos cada vez mais negativos sobre a
auto-estima, agravando os maus resultados – o resultado: o aluno
aprende cada vez menos por sentir-se incapaz de aprender. E, pior
ainda, por estar desmotivado a um ponto de agir cada vez mais “como
se tivesse desistido”, confirmando todos os maus prognósticos
sobre ele (dos pais, dos professores e dele mesmo).
É
fundamental lembrar que não apenas os pais cobram os filhos: os
próprios alunos se cobram – e muito! Se não existisse essa
auto-cobrança, não haveria repercussão sobre a auto-estima e
auto-conceito. Ou seja, sem auto-cobrança, o aluno não começaria a
se sentir inferiorizado – ele simplesmente não estaria nem aí
para seus resultados, não se esforçaria para mudá-los e não se
frustraria quando não conseguisse: o ciclo vicioso de cobrança
contra-producente e queda progressiva da auto-estima e formação de
expectativas negativas (profecias) só pode ocorrer porque o próprio
aluno se cobra um resultado e se frustra por não conseguir atender
às cobranças externas e internas.
Portanto,
torna-se fundamental diferenciar o aluno desinteressado
(“irresponsável”, mesmo?) do aluno interessado mas desmotivado,
com a auto-estima fragilizada, sentindo-se incapaz. Por vezes é
muito difícil fazer essa distinção e vemos pais investindo muito
em alunos que simplesmente apenas fingem colaborar, enquanto outros
exageram na cobrança de alunos que já estão dando o melhor de si,
esforçando-se muito mais do que a média.
O
Método Educare é simples, baseado em uma sequência lógica,
harmonizado com os processos cerebrais de aprendizado e que visa
recuperar a auto-estima do aluno, ao apoiar-se no que eles são
capazes de fazer, motivando-os a partir de se “perceberem capazes”
de aprender e, consequentemente, de muito mais: de viver uma vida
saudável e produtiva!
Revisão
Observando
bem, pudemos perceber que os alunos iniciam tentando separar o que
sabem do que não sabem ainda, para definir seu alvo de aprendizagem.
É o passo que nós chamamos no Método Educare de “Revisão” –
não é exatamente rever tudo sobre o assunto e sim identificar o que
já se sabe e o que ainda se precisa aprender. Para isso, é
necessário rever mentalmente todo o contato que se teve sobre o
tema, identificando áreas de conhecimento sedimentado e áreas de
conhecimento flutuante. Este é o passo 1 do Método Educare.
Um
passo essencial porque geralmente ocorre de, nesse momento, os alunos
perceberem que sabem muito mais do assunto do que imaginavam – é o
“perceber-se capaz”! Ou seja, ao serem questionados pelo Tutor
(ou por si próprios ou por alguém do grupo de estudo) sobre “o
que lembram do assunto”, muitos respondem que lembram pouco ou
quase nada. Porém, quando o Tutor pede que digam “pelo menos uma
coisa que lembram” o efeito é de acabarem lembrando muito mais,
pois as informações estão sempre relacionadas a outras: ou seja,
“puxando uma”, outras também vem e, com essas, outras e mais
outras...
Este
é um dos efeitos do Método, que faz o aluno perceber-se capaz: o
tutor vai estimulando os alunos a lembrarem, com dicas e apresentando
perguntas e informações relacionadas, para extrair o máximo
possível da sua memória. Quando os alunos se percebem falando muito
mais do que imaginavam a princípio, ocorre um efeito interessante:
eles agora já não pensam mais que “sabem pouco ou quase nada”
do tema... agora sentem-se mais capazes de aprender porque perceberam
que sabiam mais do que pensavam!
Após
separarem o que sabem do que não sabem, os alunos vão aprofundar o
que já sabem. Ou seja, ao invés de irmos diretamente estudar o que
eles não sabem ainda, preferimos aprofundar um pouco a parte que
eles já se sentem seguros. Por quê? Porquê quando partimos de um
assunto que eles já aprenderam, reafirmamos que eles são capazes de
aprender. E essa sensação de ser capaz vai fazer toda a diferença
quando formos abordar os assuntos que eles ainda não sabem: se o
nosso ponto de chegada é o que eles ainda não sabem, nosso ponto de
partida precisa ser o que eles já sabem.
Há
um outro motivo, importantíssimo, pelo qual precisamos primeiro
abordar o que eles já sabem: o cérebro fixa uma informação nova
em uma informação já fixada. Assim, quando revisamos as
informações já fixadas (o que eles “já sabem”) criamos as
condições para fixar o objeto de estudo (o que eles vão aprender
em seguida).
Após
revisarem (separando o que sabem do que não sabem; ou: “informações
já fixadas” de “informações novas”), os alunos podem passar
ao próximo passo: pesquisar mais sobre o que ainda não sabem.
Quando
a Pesquisa (passo 2) é precedida de uma Revisão (realizada da forma
descrita acima), ocorrem alguns outros fenômenos interessantes:
primeiro, o alvo do aprendizado é identificado e o tempo de estudo
otimizado; o processo de estudo começa a se tornar organizado, algo
que tem consequências diretas sobre o resultado: iniciar o estudo
com o exercício de uma revisão bem feita é o início da disciplina
e da organização, necessárias para os próximos passos.
Pesquisa
Pesquisar
inclui buscar dois tipos de informações: 1. as que formarão o
objetivo do aprendizado (alvo primário); 2. as relacionadas a esse
objetivo (alvo secundário).
As
informações do primeiro tipo compõem o que o aluno precisa
assimilar, ao final do estudo – aquilo que ele diretamente “precisa
aprender”. As informações do segundo tipo (que chamamos aqui de
alvo secundário) são geralmente negligenciadas – mas são
extremamente importantes, são parte essencial do processo de criação
de memória de longo prazo/ aprendizagem.
Tão
importantes – e esse é um ponto fundamental do Método Educare –
que precisamos detalhar melhor esse ponto. O cérebro só pode fixar
uma informação a uma outra informação previamente fixada. Ou
seja, para fixar uma informação nova “A”, nós precisamos de
uma informação previamente fixada “B”. E, consequentemente,
para que ocorra a fixação de “A” a “B”, é necessário
apresentar as duas, simultaneamente, para que o cérebro possa
relacioná-las – fixando uma na outra.
O
que chamamos de “Pesquisa” no Método Educare tem 2 objetivos:
buscar mais
informações novas;
buscar
informações relacionadas, já fixadas, que o cérebro possa
utilizar para fixas as informações novas.
A
busca de informações relacionadas (a pesquisa) cria um contexto,
sobre o qual será inserido o objetivo primário. Sem o contexto, as
informações novas ficariam soltas, suspensas, sem poderem ser
fixadas – ou, em outras palavras, ficam apenas na memória
primária, sem serem sedimentadas na forma de memória de longo prazo
(o aprendizado).
É
semelhante a uma relação figura-fundo: a figura é o alvo primário
e as informações relacionadas são o fundo; a figura destaca-se do
fundo e pode ser compreendida, enquanto o fundo cria o contexto para
essa compreensão.
Uma
outra forma de apresentar essa ideia é a relação entre floresta e
árvore: sabemos que é impossível compreendermos o que é uma
floresta sem sabermos o que é uma árvore. O que as pessoas em geral
subestimam é a necessidade de se conhecer algo sobre florestas no
momento de se aprender sobre árvores. Ou seja, para aprender o que é
uma árvore, é extremamente útil apresentar o conceito de floresta
porque criará o contexto para assimilação do conceito “árvore”.
A Pesquisa, no
Método Educare não apenas ajuda a fixar informações: ajuda a
formar uma nova visão sobre tudo.
Há
pessoas que passam a vida inteira sabendo muito sobre árvores mas
nunca compreenderam o que realmente é uma floresta. Assim como nós
observamos profissionais que sabem muito sobre medicamentos mas quase
nada sobre as pessoas em que esses medicamentos fazem efeito; ou que
sabem muito sobre leis mas quase nada sobre as condições em que as
pessoas vivem; ou que sabem muito sobre construir casas mas quase
nada sobre as pessoas que moram nelas; ou sobre tantos outros que
veem bem as figuras mas não olham o fundo – e sabem muito sobre
coisas e quase nada sobre pessoas.
Por
isso, o que chamamos de Pesquisa precisa ir muito além de coletar
mais informações. A essência do método é: “como utilizar essas
informações adicionais”. Como criar um contexto a partir delas;
não apenas lembrando que há diferenças nas bactérias no solo
porque há diferentes tipos de solo mas também lembrando que isso
resulta em diferentes tipos de vegetais disponíveis, que formam
hábitos alimentares e culturais diferentes, resultando em poderes
econômicos e de representatividade diferentes, em consequência
disso tudo – a cultura humana local é determinada em grade parte
pelo que aquela população consegue produzir: de abacaxis a
diamantes; de folhas de coca e papoulas a petróleo e gás natural;
da agropecuária a prestação de serviços.
Quando
falamos “Pesquisar”, falamos em algo que vai muito além de
relacionar bactérias e solos, em algo que vai até os muitos outros
desdobramentos da relação entre as informações – incluindo os
comportamentais, econômicos e políticos: assim, não apenas se
sedimentam informações na forma de aprendizado mas também se forma
uma visão abrangente sobre os fenômenos, enfatizando as relações
de causa e consequência.
Este
é o papel do passo 2, a Pesquisa: além de oferecer informações
para fixar o objetivo primário do aprendizado – ao mesmo tempo em
que expande a visão sobre tudo.
Debate
Enquanto
nos passos 1 (Revisão) e 2 (Pesquisa) o objetivo é buscar
informações, no passo 3, o Debate, o objetivo é fazer essas
informações se encontrarem, para que possam ser relacionadas e,
assim, sedimentadas na forma de aprendizado.
Ou
seja, através do debate é que as informações “A” e “B”,
assim como outras, irão se encontrar. É esse encontro de
informações relacionadas que leva à sedimentação do conhecimento
– a formação de memória de longo prazo/ aprendizado.
Durante
o Debate, cada aluno oferece não apenas mais informações: cada um
oferece pontos de vista diferentes sobre as informações e sobre
como elas podem ser relacionadas. Ou seja, através do debate, se
tornam evidentes relações até então não percebidas entre as
informações.
É
a partir dos pontos de relacionamento, das áreas de intersecção,
das relações percebidas entre uma informação e outra, que uma
informação nova pode ser “colada” à uma informação
previamente fixada e, assim, ser fixada também, ou “sedimentada”,
passando a compor uma memória de longo prazo: quanto mais pontos de
fixação entre as informações, maior a chance de serem fixadas.
O
que o Debate faz é: 1. disponibilizar informações adicionais, a
serem relacionadas; 2. apresenta pontos para o relacionamento das
informações; 3. fazer se encontrarem as informações e os pontos
de fixação, “costurando” ou “colando” as informações
novas às já previamente fixadas.
Através do
debate, além de fazer se encontrarem as informações relacionadas,
cria um ambiente de liberdade e respeito à individualidade.
Idealmente,
o debate deve ocorrer em grupo, é claro! Mas o aluno pode “debater”
consigo mesmo; ao estudar sozinho, o aluno elabora questões para ele
mesmo responder. O fato de ser capaz de elaborar questões é um
excelente indicativo de que aquele assunto está sendo assimilado.
Elaborar e responder questões, mesmo sozinho, é um excelente
exercício de aprendizado.
Outros
efeitos do debate – quando ocorre em grupo – são alguns
exercícios importantes de: desenvolver pontos de vista/ opiniões
próprios; expressar pontos de vista e conceitos, geralmente
abstratos; perda da inibição em falar e em defender seus pontos de
vista; aprender a ouvir; decodificar os pontos de vista alheios;
respeitar as diferenças entre suas interpretações e seus pontos de
vista e os dos outros. Todos esses efeitos são essenciais para o
desenvolvimento da auto-estima e da sensação de ser capaz de
aprender e de se desenvolver.
Síntese
Fazer
uma Síntese é bem diferente de fazer um “resumo”; uma Síntese
é feita com as próprias palavras do aluno, a partir da visão do
assunto que o aluno desenvolveu no decorrer dos outros passos: após
revisar, após pesquisar e após debater. Mas vai muito além do tema
central, incluindo a sua relação com o contexto. Ou seja, é como
um quadro em que não se pinta apenas uma figura e sim uma figura e
um fundo: o tema e o contexto.
A
síntese é muito mais que um resumo – é um conhecimento novo,
porque decorre da soma de várias informações sobre o tema central
e sobre temas relacionados. Por exemplo, em uma Síntese sobre os
“tipos de solo”, se falaria também sobre consequências
alimentares, culturais e econômicas dos tipos de solo. Assim, um
tema de Geografia se relaciona a temas de outras disciplinas, para
compor mais que um resumo.
A
grande diferença é algo que podemos chamar de “criatividade”: a
capacidade de relacionar informações a outras; assim, duas Sínteses
sobre o mesmo tema podem ser – e geralmente são – muito
diferente uma da outra.
A Síntese faz
com que as informações circulem entre as várias áreas do
cérebro, algo extremamente necessário para a formação da memória
de longo prazo.
Uma
síntese não é um esquema e sim uma pequena redação. Não se faz
lendo ou olhando um caderno e sim inteiramente de cabeça, apenas
lembrando o que se aprendeu sobre o tema central e os temas
relacionados; sobre o objetivo e os desdobramentos – sobre a figura
central e o fundo. Ou seja, Síntese é quando informações e
contexto se encontram, a partir do ponto de vista do aluno, após uma
revisão, uma pesquisa e um debate.
Um aspecto
essencial é o ato de escrever: por ser um ato motor (com movimento)
é produzido e regulado em regiões do cérebro diferentes das que
lidam puramente com informações: ou seja, com o ato de escrever,
estimulam-se várias regiões do cérebro, a partir de uma
informação, contribuindo para sedimentá-la. Por exemplo, sabemos
hoje (através de estudos como a Ressonância Magnética Funcional),
que uma palavra que expresse uma ideia de “estar em movimento”
ativa áreas do cérebro diferentes de uma palavra que expresse uma
ideia “estar parado” (por exemplo, a palavra “avião” e a
palavra “cadeira”); algo semelhante ocorre quando se usa uma
palavra de significado concreto de uma de significado abstrato (por
exemplo, a palavra “pedra” e a palavra “saudade”); mais
ainda, substantivos ativam áreas diferentes de verbos.
Ou seja, hoje
sabemos que quanto mais uma informação circule ativando áreas
diferentes, maior a probabilidade de ser sedimentada na forma de
memória/ aprendizado. Assim, quando escrevemos uma Síntese que
inclua a palavra “sentir saudade avião” ativaremos áreas
diferentes de “mesa, pedra, cadeira” – e estas diferenças tem
implicações sobre o processo de sedimentação de informações.
Parte
do efeito da síntese vem simplesmente de fazerem circular
informações. Mas parte vem de um fenômeno importantíssimo mas
geralmente negligenciado: a relação entre movimento e a
sedimentação de informações. Há muito se sabe que estudar ou
pensar realizando algum movimento tem um efeito positivo, mais
evidente em alumas pessoas que em outras. Ocorre que o planejamento e
boa parte do movimento é realizado pelo lobo frontal, o mesmo
responsável por boa parte do processamento de informações na forma
de conhecimento. Ativar o lobo frontal com movimento facilita o
aprendizado – pelo menos em algumas pessoas. Aristóteles já havia
percebido este fenômeno e preferia refletir estando em movimento
(caminhando com seus alunos).
A Síntese
transforma conhecimento (abstrato) em atos motores (escrita),
sedimentando as informações, transformando-as em conhecimento –
ou memória de longo prazo.
Informações
novas chegam à região posterior (occipital), através da leitura,
passam pelas regiões laterais (temporais – onde estão armazenadas
as memórias, o conhecimento já sedimentado) e chegam à parte
anterior (frontal), de onde circulam da parte mais à frente,
voltando para se transformarem em movimento na parte mais central do
cérebro, no tronco cerebral e no cerebelo, que coordenam o
movimento. Ou seja, ao adicionar-se o movimento no momento em que
lidamos com informações faz com que as mesmas circulem por
praticamente todo o cérebro: o resultado é uma oportunidade maior
se serem fixadas. Este é um dos principais objetivos da Síntese:
associar um ato motor ao lidarmos com informações, aumentando a
possibilidade de serem fixadas.
Aprendizado
baseado em tutoria
O
Método Educare foi idealizado para alunos que buscam o
auto-didatismo – sozinhos em em grupo – com ou sem a orientação
de “Tutores”, por “Professores com comportamento de tutores”.
É
possível alguém se tornar auto-didata? Alguém que sempre estudou
com auxílio de professores? Claro que sim! Dispondo de um método
simples e auto-aplicável como ferramenta e material de estudo
(livros, revistas, sites e outras fontes) é tudo o que é necessário
para quem pretende estudar sozinho ou em grupo mas sem tutores ou
professores. Mas, se houver a disponibilidade de um tutor que
facilite a transição para o auto-didatismo, melhor ainda.
Há
várias diferenças entre professores e tutores; a principal delas é
que tutores se concentram em ensinar a aprender; ou seja, seu foco
não é o “ensino” e sim o “processo de aprendizagem”: seu
maior objetivo é tornar o aluno um auto-didata.
O maior objetivo
de um tutor é facilitar a transição do aluno para o
auto-didatismo.
Todos os
professores tentam ensinar os alunos a aprender, uns mais, outros
menos. Mas seu foco é apresentar o assunto, apresentar os objetos do
conhecimento. Enquanto os tutores são focados em: 1. ensinar a
aprender; 2. ensinar a aprender; e 3. ensinar a aprender. Ou seja,
eles são obcecados em tornar os alunos auto-didatas!
Partimos
de duas premissas para preferir o caminho da tutoria rumo ao
auto-didatismo.
A
primeira é: estudar é compreender um tema e encontrar respostas.
Quem é que está estudando? O aluno! Portanto, o aluno é que tem
que compreender os temas encontrar respostas! O que o tutor pode
fazer é facilitar esse processo; é guiá-lo rumo ao caminho das
pedras; é passar algumas coordenadas para que ele possa se orientar
e encontrar a direção, o “fio da meada”. Daí em diante, tem
que ser com ele, aluno!
Essa
orientação ocorre muitas vezes na forma de pequenas perguntas. Não
seriam dicas diretas e sim perguntas simples, que na realidade são
um passo em direção à pergunta maior. Como nos ensinou Descartes
em seu discurso do método, cada questão pode ser decomposta em
questões menores, até encontrarmos questões tão simples que não
podem mais ser decompostas.
Assim,
quando o aluno tenta responder uma questão, o tutor faz perguntas
simples, que na realidade compõem a questão maior que o aluno está
suando para tentar responder. Ao perceber-se respondendo uma questão
sobre o tema, o aluno percebe-se capaz.
Em
seguida, mais uma questão simples respondida e já estamos avançando
para a questão final. É um processo em que o aluno acaba revisando
o conhecimento necessário para responder a questão; quando ele
percebe, a resposta à questão já apareceu, como consequência de
ter respondido às várias questões simples.
Se
o aluno estiver estudando sozinho ou em grupo mas sem tutor, cada um
deve procurar decompor a questão maior em questões simples
(conforme sugerido por Descartes) e ir ativamente procurando compor
passo a passo o caminho para a resposta.
Após
as “perguntas-simples” ou “perguntas-dicas” do tutor, o aluno
ativamente assume a condução do processo: ele busca e encontra um
ponto de vista para analisar o tema e compreendê-lo – ativamente,
porque ninguém responde questões passivamente!
A
segunda premissa para o aprendizado baseado em tutoria é: tudo o que
o aluno precisa, em termos de informação para compreender um tema,
está nos livros-texto e em fontes outras de pesquisa; da mesma
forma, tudo o que ele precisa para responder uma questão está nos
livros e outras fontes.
Portanto,
ele precisa apenas ter acesso a essas fontes e receber uma orientação
de como fazê-lo, por onde começar (é exatamente este um dos papeis
do Tutor). Fazendo-o, ele compreenderá o tema e, ativamente,
encontrará as respostas. Se o aluno estiver estudando sozinho ou em
grupo mas sem tutor, ele deve procurar o “fio da meada”
preferencialmente em algum ponto daquele tema que o mesmo já domine;
a partir desse ponto, vai estendendo a revisão, a pesquisa o debate,
etc...
Outros itens
essenciais para o aprendizado
1.
organização; 2. disciplina; 3. auto-estima; 4 motivação; 5.
atividade física
Organização:
A
simples existência de um método é um excelente começo. E esse
método indicando uma forma clara de iniciar o estudo (com a
Revisão), um “por onde começar” bem definido, seguido das
outros 3 passos tem o efeito de estabelecer um plano de estudo. O
aluno começa já sabendo por onde começar e quais serão os
próximos passos.
Ter
uma sequência e um plano bem definidos de estudo: começamos pelas
disciplinas onde o aluno tem mais facilidade, para que se perceba
capaz. Além disso, pelo mesmo motivo, usa-se menos tempo com estas.
Entre as que o aluno tem menos facilidade, seguimos com aquelas cuja
avaliação esteja mais próxima.
Material
todo colocado desde o início, vamos checar os temas que vamos
estudar: nesta disciplina, vamos revisar primeiro este tema, depois
aquele, passando por aquele outro e chegando a aquele outro. Ao
iniciar o tema, uma passeada geral – folheando o texto, por exemplo
– ajuda a ir ativando algumas informações e despertando
associações, necessárias para quando vier o estudo em si.
A
cada tema, revisa-se mentalmente o que se sabe sobre ele; em seguida,
o mesmo com o próximo tema e assim até o final. Em seguida-se,
buscam-se as informações necessárias através da Pesquisa e
segue-se adiante, disciplina por disciplina; pausas conforme
necessário, para água, para lanche, para esticar as pernas e a
coluna, ou simplesmente para relaxar um pouco. Mais importante ainda,
é que as pausas são necessárias para o cérebro processar o
conteúdo, associando e sedimentando as informações.
Música
enquanto estuda: o efeito varia de pessoa para pessoa – enquanto
distrai e dificulta o estudo para alguns, pode estimular o cérebro e
facilitar, para outros; é essencial que cada um tenha auto-crítica
suficiente para usar este recurso ou evitar esse fator de distração.
O tutor também pode ajudar nessa avaliação.
Aparelhos
celulares são sempre uma fonte de distração e não podem ser
incluídos no ambiente de estudo. Tablets podem ser utilizados como
ferramenta de acesso à internet durante a fase de pesquisa; durante
a síntese, o aluno deve escrever à mão, para que tenhamos o efeito
de adicionar movimento (apenas teclar tem uma quantidade muito menor
de movimento).
Defina
o tempo para cada etapa: ou seja, 30 minutos para Matemática e 30
para Biologia; 10 minutos de intervalo; 60 minutos para Física;
intervalo de 10 minutos; e assim por diante. Além de distribuir bem
o tempo, define metas e a sensação de “urgência” em terminar,
à medida em que o tempo vai acabando, o que serve como um estímulo
significativo.
Um
ponto essencial é que o aluno comece, comece, comece! Na hora
programada para começar a estudar, que comece! Não caia na
armadilha de começar “daqui a 10 minutos”... precisa ser na hora
programada.
Se
puder ser tudo organizado e planejado, conforme descrito acima,
ótimo. Mas, se não for, que o aluno comece de qualquer forma, desde
que no horário estabelecido. Começar é essencial, é um passo que
não pode faltar; começar da melhor forma possível – mesmo que
distante da ideal – e ir ajustando a sequência, à medida em que o
hábito de estudar se estabelece. Quando o hábito de estudar se
estabelece, tudo começa a melhorar!
Disciplina:
Consideramos
a disciplina não como “seguir orientações” - geralmente sem
questionamento. Ao contrário, disciplina não teria muito a ver com
seguir orientações e sim em manter a organização iniciada no
passo 1 (a Revisão).
Ou
seja, Disciplina seria mais ou menos o mesmo que “saber perseverar”
– uma vez iniciado um processo, ele precisa ser mantido: a
disciplina refere-se a manter-se
fazendo todas as etapas do Método, todas os dias, todas as vezes que
se for estudar.
Pois
de nada adiantaria fazer as 4 etapas do método uma vez ou outra,
“quando se estivesse mais disposto”... muito menos fazer de
qualquer jeito “só hoje”, por estar mais apressado... A
disciplina que o Método Educare precisa não é a disciplina de
cumprir o que se manda e sim a disciplina de manter as 4 etapas do
método – fazer da mesma forma, todas as vezes.
Auto-estima:
Por
ser um aspecto essencial para um bom rendimento escolar e por ser
pouco debatido, nos estenderemos um pouco mais sobre o tema
“auto-estima”.
Para
um bom rendimento, além de estudar de forma organizada e
disciplinada, perseverando no método, é necessário que a
auto-estima esteja preservada. Se não estiver – e frequentemente
não está – é necessário restaurá-la. Para isso, sempre é
necessária a ajuda dos pais e amigos, assim como pode ser a
participação de psicólogos.
Para
que o aluno não assimile seus resultados ruins como significando que
ele “é incapaz de resultados bons” (ou seja, para que seus
resultados atuais não comprometam sua auto-estima e a expectativa
negativa sobre os próximos resultados não os façam desistir de
tentar – a profecia auto-realizada) é preciso que o aluno seja
orientado sobre o processo de ensino-aprendizagem-avaliação, suas
premissas e suas imperfeições. E, se o aluno estiver com a
auto-estima comprometida por outros motivos (sem especificar quais),
é papel do tutor/ professor auxiliar nessa percepção e orientar
bem aos pais/ cuidadores.
Além
disso, é necessária uma reflexão mais geral, sobre o mundo, para
que o aluno perceba que suas inquietações (que o estão fazendo
sentir inferiorizados) são próprias da idade e, mais ainda,
próprias dos seres humanos de maneira geral. Que nada torna um ser
humano inferior ou superior a outro – nem notas ruins ou notas
boas... sua auto-estima não precisa variar tanto em função dos
altos e baixos das notas, porque há um horizonte muito mais
abrangente à frente.
Parece
simples mas para que uma criança ou adolescente com desempenho
escolar ruim não se sinta diminuído em relação aos colegas e ao
mundo desafiador que ele vê bem à sua frente, é preciso uma certa
noção de como as coisas são e funcionam – algo que, embora seja
extremamente difícil na idade escolar, é extremamente necessário e
pode fazer toda a diferença.
Por
isso, uma característica do Método Educare é um convite permanente
à reflexão... e o quanto antes esse processo que levará a uma
“compreensão geral” do mundo se iniciar, melhor – considerando
as especificidades de cada idade e de cada aluno em particular.
Todos
nós refletimos sobre tudo. Desde qual roupa usar até qual o sentido
da vida. Os alunos geralmente refletem apenas sobre a utilidade do
conhecimento que a escola e os pais tentam quase desesperadamente
fazer com que eles aprendam.... E sabemos que para crianças e
adolescentes a ideia meio óbvia de “se não estudar, não arruma
um bom emprego ou uma boa profissão, etc” não faz muito sentido
porque eles ainda não desenvolveram totalmente a noção de
consequência ou uma visão em perspectiva.
É
necessário, então, refletir sobre o momento, sobre o futuro, sobre
o sentido de estudar, sobre o que seja crescer, sobre o que seja
liberdade, sobre o papel dos pais, sobre o seu papel cada vez mais
ativo em cuidar de si mesmo, sobre o valor da oportunidade de estudar
e todas as suas inúmeras consequências... Inclusive sobre não se
poder avaliar o valor de cada ser humano pelo seu boletim! Que,
apesar das notas serem importantes, não classificam as pessoas em
níveis... Que uma comparação entre as suas notas e as do seu
colega não é uma comparação entre ele e seu colega e sim apenas
entre suas notas... Que mesmo um desempenho escolar ruim não o torna
uma pessoa ruim... Que notas refletem um momento, não uma pessoa...
Que as notas desse bimestre são desse bimestre – no próximo,
podem ser totalmente diferentes... Que um resultado anterior ruim
apenas nos leva a continuar tentando um resultado melhor em seguida,
nunca a esperar um resultado ruim e desistir... Que devemos estar
alertas para o fenômeno real da “profecia auto-realizada”...
Mas
quem vai discutir esses temas com eles? A família, sim – mas cada
vez menos? A religião, sim – mas jovens mais escolarizados são
cada vez menos religiosos. Sobrou para a escola! E a escola não pode
ignorar esse fato muito menos se omitir nesse momento tão crucial!
O
Método Educare oferece algo especificamente no sentido de convidar à
reflexão? A Pesquisa, o Debate e, principalmente, a Síntese – por
acrescentar uma visão pessoal do tema – certamente estimulam a
reflexão. Os tutores, ao oferecerem perguntas simples, que levam a
raciocínios, também estimulam a reflexão. E o aluno que estuda
sozinho ou em grupo mas sem tutores ou professores pode fazer
diariamente exercícios de reflexão.
A
reflexão sobre os temas citados acima, nas oportunidades que o
método oferece, pode levar a uma compreensão mais abrangente e
profunda de si mesmo, do significado e utilidade do estudo, do
comportamento humano e do funcionamento geral do mundo – algo
necessário para a manter a auto-estima e evitar a profecia
auto-realizada.
Motivação
Como
definir motivação – ou, mais importante ainda, como diferenciar
motivação de interesse? Se não o fizermos precisamente, como
diferenciar um aluno desmotivado de um desinteressado?
Digamos
que uma pessoa que tem o objetivo de aprender e outra que não deseja
e sim apenas divertir-se, sem pensar no amanhã. É fácil perceber
que o segundo está desinteressado. Mas não necessariamente o
primeiro irá atingir seu objetivo – ele pode simplesmente não ter
motivação suficiente, mesmo tendo interesse.
Esse
algo que se soma ao interesse e à decisão de buscar um objetivo,
não é algo especificamente ligado a nenhum objetivo em particular –
ao contrário, o que chamamos de Motivação é algo geral, que
apenas pode ser canalizado para um objetivo específico. Cada um traz
as suas motivações e o papel do tutor é facilitar o direcionamento
desse energia para o estudo. Profissionais e empresários de sucesso
não tem apenas uma boa qualificação técnica e uma visão apurada
do seu mercado – também souberam canalizar suas motivações de
forma produtiva.
Um
aluno desmotivado sinaliza claramente que há algum problema sério:
desde depressão até traumas pessoais e/ ou relacionados ao estudo.
O papel do professor/ tutor é o de reconhecer a desmotivação
(diferenciado-a do desinteresse) e chamar a atenção dos pais e
cuidadores para o problema. Apenas corrigindo a desmotivação o
estudo pode passar a ter um rendimento satisfatório.
Os
determinantes das motivações são amplos e de base tanto biológica
quanto psicológica; o que nos interessa é: estimar a motivação
(diferenciando do aluno desinteressado); tentar canalizá-la para os
objetivos do estudo. O papel do tutor é essencial nestes aspectos:
apenas com uma observação e interação individualizada, é
possível reconhecer e canalizar as motivações dos alunos. O aluno
que estuda sozinho pode fazê-lo através do exercício diário de
reflexão.
E
como fazer para tentar canalizar a motivação para o estudo, ligando
o estudo ao futuro – algo que sempre parece distante, para o
adolescente que vive o agora? Acreditamos que o principal é o
exemplo dos pais – como eles se relacionam ao trabalho, ao estudo e
à perspectiva de futuro. Conversas em casa, com amigos e, se
necessário, com psicólogos também ajudam.
Cabe
a todos os envolvidos (pais e cuidadores, tutores, professores e
colegas), convidá-los a reflexão, a perceber as próprias
motivações e a canalizá-las de forma produtiva, direcionando-a aos
seus objetivos.
Atividade física
O
exercício físico, especialmente
aeróbico, tem um efeito significativo sobre a formação de conexões
cerebrais (sinapses) nas regiões relacionadas a memória. Mesmo
pessoas com doenças degenerativas (como Alzheimer e outras
demências) apresentam um efeito benéfico evidente do exercício.
Além
disso, alunos com rendimento não satisfatório no estudo
frequentemente apresentam-se tensos pelo excesso de cobranças
externas e auto-cobrança; muitos tem ansiedade determinada
biologicamente, principalmente se apresentam também TDAH/ déficit
de atenção. E a atividade física regular, especialmente aeróbica
(exercícios lentos e duradouros, como esteira/ bicicleta e natação),
contribuem significativamente para reduzir a ansiedade e,
consequentemente, melhorar o aprendizado e a auto-estima.
Portanto,
a prática de regular de exercícios, especialmente aeróbicos, é
imprescindível no acompanhamento de todos os alunos com baixo
rendimento no estudo – assim como para alunos com rendimento
normal.
Uma palavra sobre
liderança
Todos
nós precisamos de liderança. E frequentemente também precisamos
saber liderar. Se alunos com rendimento normal precisam de uma boa
liderança, alunos com rendimento abaixo da média e alunos com TDAH/
déficit de atenção, demandam atenção especial neste tema:
simplesmente porquê uma liderança inadequada muitas vezes é a
causa principal do baixo rendimento no estudo.
Há
várias definições de liderança, todas elas imperfeitas. Uma
definição simples poderia ser: influenciar pessoas para que façam
algo voluntariamente. Ou seja, liderança pressupõe respeito à
vontade, às decisões do aluno. Mas o que fazer se o aluno
simplesmente aparenta não querer ou não tomar a decisão de estudar
como achamos que ele precisa?
Neste
ponto, torna ainda mais evidente a importância de distinguirmos
alunos desmotivados de alunos desinteressados (irresponsáveis,
mesmo?). Ambos requerem uma liderança muito bem orientada mas com
estratégias completamente diferentes: 1. como despertar a motivação?
2. como despertar o interesse pelo estudo? Este segundo item talvez
seja ainda mais difícil.
E
como fazer isso sem atropelar o aluno, sem desrespeitar sua vontade,
sem cair na tentação simplista de tentar “mandar” ou de
“ameaçar punições” ou “prometer recompensas”... Embora
tudo isso possa ter seu papel, lidar com alunos desmotivados ou
desinteressados é um enorme desafio para tutores, professores, pais
e cuidadores.
Acreditamos
não ser possível “motivar pessoas” e sim apenas despertar e
canalizar motivações já existentes – um efeito bem menor do que
gostaríamos.
Provavelmente
poucas coisas tem um efeito maior para despertar a motivação do que
encontrar algo que o aluno saiba fazer bem, o que também tem um
efeito direto na auto-estima – e a melhora da auto-estima é que
desperta a motivação e a canaliza para o que estiver provocando
este efeito. Perceber-se fazendo algo bem feito faz o aluno
“perceber-se capaz”, o ponto-chave do Método Educare.
O
que chamamos de “liderar” no Método Educare é simplesmente
facilitar esse processo: aproveitar cada oportunidade de ocupar o
aluno com algo que ele saiba fazer bem – ou temas que ele tenha
mais conhecimento estabelecido; e, em seguida, associar essas
atividades com aquelas que ele precisa realizar – como estudar
alguns temas de matemática...!
O Método
Educare é uma ferramenta para o que o tutor, o professor e a
família aperfeiçoe o processo da liderança em cada oportunidade.
Quanto ao
aluno desinteressado, antes mesmo de “liderança”, é preciso
“reflexão”: alunos desinteressados precisam urgentemente ser
convidados a perceber que a Terra não para de girar aguardando sua
boa-vontade para fazer algo; que ninguém têm todo o tempo do mundo
e sim que há um tempo para cada coisa.
Os
tutores e professores podem e devem participar dessa estimulação –
mas este é um papel fundamentalmente exercido pela família. Os
líderes familiares (pais, mães e cuidadores) precisam assumir
ativamente o papel de dosar “cobrança” e “reflexão”; o
papel de despertar e canalizar as motivações dos filhos para que
eles ativem seus interesses – geralmente latentes, apenas esperando
uma oportunidade de se manifestarem.
Uma palavra sobre
TDAH/ déficit de atenção
É preciso
lembrar que muitas crianças simplesmente não apresentam TDAH e são
equivocadamente diagnosticadas – o que torna particularmente
desastrosa qualquer tentativa de “tratamento”, especialmente se
medicamentoso: todos os riscos físicos e efeitos negativos sobre a
auto-estima, sem qualquer benefício.
Todos nós
sabemos que há crianças, adolescentes e adultos com graus variados
de dificuldade de manter o foco da atenção; boa parte deles
apresenta inquietação motora concomitante. Apesar de terem
inteligência normal – ou acima da média – é frequente haver um
desencontro entre sua forma de aprender e a forma das escolas
ensinarem e avaliarem o aprendizado.
É
bastante comum que esses alunos sofram rotulamento e bullying,
agravados por algum grau de negligência ou mesmo de abandono por
parte das próprias escolas. Além disso, boa parte sofre com excesso
de intervenções médicas, incluindo uso de medicamentos que, apesar
de efeitos imediatos na atenção, tem efeitos questionáveis sobre o
resultado final, além de frequentes efeitos colaterais
(irritabilidade, perda do apetite, insônia, desencadeamento de
sintomas ansiosos e depressivos) e contra-indicações cardiológicas.
Mais ainda, o efeito negativo sobre a auto-estima e auto-conceito são
consequências inevitáveis do uso de qualquer medicamento e do
rotulamento em um diagnóstico.
O
que o Método Educare pode oferecer de forma específica para alunos
que – realmente – apresentem TDAH?
O
que o método oferece para alunos com TDAH é que ele funciona,
independente de TDAH ou não-TDAH... Ou seja, o método funciona
porque baseia-se no funcionamento do cérebro – que é o mesmo para
“TDAH” ou “não-TDAH”!
E
Justamente por não ser específico para quem quer que seja, o Método
Educare contribui para diminuir os efeitos do rotulamento. O método
é de estudo, não é de “tratamento”! O método serve a quem
precisa estudar, a quem precisa aprender, a quem precisa se tornar
auto-didata – embora, indiretamente, ao atenuar o rotulamento, o
método ajude a retirar um obstáculo significativo ao aprendizado de
alunos com o diagnóstico de TDAH.
É
possível que pessoas atualmente rotuladas de “portadores de TDAH”
tenham um desempenho melhor com o método, do que “não-portadores”,
por alguns motivos:
por ser uma
sequência de estudo mais individualizada, mais subjetiva –
incluindo a proporção de tempo utilizada para cada passo;
por haver um
grande espaço para a criatividade, nos passos “Pesquisa”,
“Debate” e, principalmente , no passo “Síntese”;
por
privilegiar a associação entre informações, algo que os
“alunos com TDAH” não tem dificuldade alguma ou até uma
habilidade superior – mesmo aparentemente distantes.
Enfim,
é justamente por não ser “específico para portadores de TDAH”
que o Método Educare lhes é particularmente benéfico: ao
contribuir para desfazer o rótulo, o conceito inteiramente
equivocado de que “portadores” de TDAH precisam de medidas
adicionais, de métodos especiais, de ferramentas poderosíssimas
para lidar com seu “déficit”, com sua falta de capacidade de
algo...
O
que alunos que realmente tenham dificuldade de atenção precisam é
de uma forma de estudar que considere sua individualidade, que lhes
deixe espaço para sua criatividade, que lhes permita memorizar
informações ao associá-las livremente! Algo que lhes mostre que,
embora possam ter alguma dificuldade na escola, é frequente que
tenham um desempenho acima da média na Faculdade e, mais ainda, no
mercado de trabalho. Que sua eventual dificuldade de manter o foco em
apenas um tema, durante o estudo, é acompanhada de uma facilidade de
relacionar informações abstratas – o que é altamente valioso no
mercado de trabalho.
Conclusão:
percebendo-se capaz
Em
todas os passos do Método Educare há algo que mostra ao aluno que
ele é capaz. Não apenas capaz de aprender um assunto mas de
aprender a aprender. Capaz de aprender a cuidar de si mesmo – ou
seja, capaz de crescer. Capaz de elaborar e responder perguntas,
capaz de captar dicas em perguntas simples, capaz de se orientar em
um tema e de encontrar a melhor forma de abordá-lo; de elaborar um
ponto de vista e defendê-lo respeitando o ponto de vista do colega.
Capaz
de escrever uma síntese do conhecimento sobre um tema, acrescentando
sua visão pessoal. Capaz de refletir sobre a utilidade de saber
matemática e de refletir sobre o sentido da vida. Capaz de observar
o exemplo dos pais e não apenas aprender com eles – como agir e
como não agir – mas também expressar suas opiniões a aprender a
seguir seu próprio caminho.
Se na escola o
aluno precisa se tornar um auto-didata, na vida o adolescente
precisa aprender a cuidar de si mesmo, assumindo uma vida mais que
produtiva: saudável e feliz!